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segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

a árvore


Era uma vontade tão grande de ser tudo
De ser maior que tudo...

E aquele cercado, aquela redoma,
Não lhe permitia crescer.

Quantos anos teriam se passado?
Ninguém sabe...

Ficou madura, atrofiada, como um bonsai esquisito
Nunca deu as flores e frutos que se esperava.

Mas como se esperava que florescesse
Se a condenavam àquela sobrevida?

E aquela desgraça de planta parecia que tinha consciência.
Queria ser tudo.
E não era nada.
Nem viva, nem morta, nem bonita, nem feia,
não era nada.






Mas sabia.
Sabia de tudo.

E sofria...









E me assombrava todas as noites com sua estranheza estéril.
Como um sinal de alerta, como um aviso, um mau agouro.
Um lembrete diário do meu próprio estado de latência, também prestes a apodrecer...

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Não há nada que acalme um coração que faz
Do amargo seu sabor
Nada basta a minha alma que reclama sem paz
Os teus beijos sem amor


Vejo céu negro derramar
sobre a cidade a sua dor
Meus olhos no rastro do sol
que a tempestade nunca apagou


Não há nada no mundo que acalme um coração que faz
Do amargo seu sabor
Nada basta a minha alma que reclama sem paz
Os teus beijos sem amor


Vejo céu negro derramar
sobre a cidade a sua dor
Meus olhos no rastro do sol
que a tempestade nunca apagou


pra onde vão desejos?
palavras sem razão?
Pra onde vão palavras?
versos ao vento vão

[Balada do céu negro - Zeca Baleiro]

sábado, 7 de novembro de 2009

...

indo..
indo...

não, não está tudo bem, está tudo "indo".
.
.
.
só não sei pra onde.

consigo ver todos os compartimentos da minha vida, organizadamente dispostos em uma planilha da Microsoft Office Excel 2003. Estão lá os nomes, datas e prazos de validade dos meus desafios, todos inacessíveis, ou inacessados. Todos tão fáceis de resolver, mas todos parados.
.
.
.
uma coisa disforme e inominável insiste em sugar as energias, e toda a ordem e método que pudesse haver no meu pensamento.

...e eu continuo indo, indo, indo...



arrastando uma bagagem cada vez maior de um nada muito concreto e potencializado.
Eu quero que esse teto caia!
Eu quero que esse afeto saia!

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

a cura

eu quero o suco de todas as frutas
o doce, o amargo o azedo, o salgado...
eu quero flores multicolores, e frutas de mil sabores
.
.
.
e todo o sangue do mundo
em transfusão
pra acabar com essa anemia...

dos delírios na janela


...

eu não sei direito como subi aqui
alto demais, mas não o suficiente
talvez eu quisesse subir mais, bem mais
.
.
.
descer é mais fácil.


mas eu preciso reaprender os sentidos...
o modo de pensar,
a respiração controlada,
o vôo raso.

...

só se eu me esquecesse de tudo...
engolisse a cidade
pela janela,
toda a cidade.


eu quero a cidade além da janela!
eu quero todas as pessoas da cidade!
mastigar e engolir tudo!
.
.
.
se ao menos eu pudesse... respirar...